Monday, March 19, 2007

Ave Maria! Santa Terezinha!

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- Ave Maria! Muito afobada! Demais!

- Mas vou fazer o quê? Desde pequena eu sou a mais elétrica da casa, fazia mil atividades! Natação, judô, inglês...

- Hum...Psiu! Escute! Consultei os grandes mestres da literatura e eis aqui a solução dos seus problemas!

A moça juntou as sobrancelhas, apertou o olho, enquanto o “doutor” estendia um papel retangular, acetinado e pequeno, como aqueles santinhos de reza, de um lado a foto de um quadro, onde figurava um casal apaixonado de Renoir e do outro algumas palavras alinhadas em verso.

- Você pode treinar sozinha...

- Treinar o que pelo amor de Santa Terezinha?!

- Veja bem, isso me deu um enorme trabalho. Muito tempo colecionando as frases mais belas.

Agora ela arqueou as sobrancelhas e os ombros, subiu, atônita.

- Sim?

- Quando você precisar falar com o seu namorado diga essas palavras. É tiro e queda. Só decorar. Don’t worry and be happy! “Como eu vou contar isso ou aquilo para o Léo?!” Não. Nenhum esforço. Recite calmamente, sorria e está feito.

Mais uma vez as sobrancelhas se juntaram. Repuxou a cabeça:

- Inefável? Que é isso?

- Não, não é para se preocupar. – Dedo em riste. – Nem tentar entender! Basta você acreditar. Sinta como é sonoro, parece até música! E isto já é o suficiente.

- Mas...

- Hum, hum! – meneou a cabeça em sinal de negação – já está na hora!

O doutor levantou-se, abriu largo sorriso. Ainda sentada observou o grande homem, olhou o relógio na parede defronte, “nem cinco minutos!”, revirou o papel nas mãos. Suspirou. Pegou a carteira e guardou-o ao lado da oração de Santa Terezinha, sua santa de devoção. Sem grande ânimo:

- Vou tentar...

- Decore e recite sempre que precisar falar. Não tem como errar.

O sorriso largo permanecia ali.

- Sempre? E se não for o caso?

- Ande querida, outras estão esperando. – Conduzindo-a para porta. – Se não for o caso? Sempre será o caso! São palavras perfeitas para qualquer momento do ocaso. – Risadinhas insossas – Como o seu vestidinho-preto, pau-pra-qualquer-obra! Não é assim?

- O vestido preto? É... Só que isso aqui é...

- O pai-nosso dos namorados.

No último passo tropeçou na peça de granito divisória entre a sala restrita e o hall de espera. Mal firmou-se em pé sentiu a porta bater atrás de si.

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